NATALIA GONSALES VOLTA EM CARTAZ COM MONÓLOGO INSPIRADO EM DIÁRIO DE ESCRITORA E FILÓSOFA FRANCESA |
Espetáculo solo A Última Dança é inspirado no diário de Simone Weil “Expérience de la vie d’usine” (“Vivendo a vida da fábrica”) e nas pesquisas publicadas por Eclea Bosi (“Simone Weil – A condição operária e outros estudos sobre a opressão”)
Simone Adolphine Weil (1909 – 1943) foi uma escritora e filósofa francesa, que se tornou operária para escrever sobre o cotidiano dentro das fábricas. Natalia Gonsales leva ao teatro os escritos desta francesa, que narram sua vida na fábrica e resistência às guerras e à força. A encenação foi toda construída a partir de seus relatos e cartas.A Última Dança reestreia no Viga Espaço Cênico dia 19 de setembro para temporada até 28 de novembro. César Baptista é o responsável pela dramaturgia e adaptação do diário de Simone para o teatro. Em cena a atriz e algumas máquinas de linha de produção – que fazem parte do cenário assinado pelo cenógrafo, ator e diretorFlávio Tolezani. A trilha é composta por ruídos das correias e barulhos de macetadas. Outras manifestações sonoras do ambiente fabril são transformadas em músicas compostas pelo premiado compositor Daniel Maia. A luz desenhada por Igor Sane é responsável pela atmosfera dura e fria de uma fábrica e pela mudança de temperatura ambiente que os operários eram/são submetidos (“o frio vivido pelos operários era capaz de paralisar os movimentos, enquanto que o calor era opressivo” – Simone Weil). “Como é possível essa mulher com mãos pequenas demais para o corpo ter se transformado em operária? Através dessa vivência, Simone deixou uma espécie de diário relatando o seu dia a dia numa fábrica: a fome, o calor do forno, as labaredas, o barulho terrível da caldeiraria, os acidentes, as doenças, as ordens, o medo, o ritmo crescente do trabalho, o esgotamento, o envelhecimento, a infelicidade, o emburramento. Segundo Simone, a ordem imposta pela força exige que seja preciso calar e obedecer fazendo com que o pensamento se dobre sobre si. As greves, os pensamentos retraídos, o cansaço, a tragédia grega no cotidiano do povo, o esmagamento da minoria, as relações de força na história que geram a opressão até os dias de hoje são temas que ela pensou, escreveu de maneira audaz e que são abordados nessa encenação”, comenta Natalia Gonsales. Um pouco sobre Simone Weil Lutou na Guerra Civil Espanhola, ao lado dos republicanos, e na Resistência Francesa, em Londres; por ser bastante conhecida, foi impedida de retornar à França como pretendia; acometida de tuberculose, não teria admitido se alimentar além da ração diária permitida aos soldados, nos campos de batalha, ou aos civis pelos tickets de racionamento. Com a progressiva deterioração de seu estado de saúde, em estado de desnutrição, faleceu poucos dias depois de seu internamento hospitalar aos 34 anos de idade. A ÚLTIMA DANÇA por Por Natália Gonsales E na arte? Quando optamos por ela, não estamos seguindo um caminho diferente? Acredito que a resposta deveria ser sim, porém nem sempre é. O homem, o artista deveria ter o sentimento da apropriação: “Nada mais forte para o homem que a necessidade de se apropriar pelo pensamento. Uma cozinheira diz: minha cozinha.” Palavras de Simone Weil. E um ator? Não deveria se apropriar do espaço, ou seja, do teatro? Porém, muitas vezes somos vistos apenas como uma unidade de força de trabalho, sem voz e que esta ali apenas para executar: “Cale-se. Você é apenas uma atriz.” Porém, nessa minha pequena trajetória artística, me senti muitas vezes calada, onde o pensamento morre, o corpo se curva ao poder, ao dinheiro e principalmente ao sistema. Acredito que somos educados a esperar, receber ordens, calar, executar. Aguentar tudo em silêncio. Mas se escolhemos viver não podemos ter medo do grito. Nesse caso, o que diferencia um artista de um operário que não sabe o que produz, logo não tem o sentimento de ter produzido algo? E os outros? Que não necessariamente são artistas ou operários/trabalhadores, mas que se curvam aos valores impostos pela sociedade capazes de levar ao aprisionamento e a cegueira. E assim, o calar me conduziu ao grito. Um grito parecido com o grito do meu irmão. E desse encontro, fui presenteada por ele com os relatos da Filósofa Simone Weil. Relatos dela nas fábricas, quando essa mulher abdicou de uma vida farta para viver entre os operários. E através da experiência ela vivenciou uma realidade dura e aceitou as marcas da escravidão. Ficha Técnica Serviço: |
‘A Última Dança’ revive experiências de resistência de escritora francesa
Simone Adolphine Weil usou como tema o cotidiano dentro das fábricas
Simone Adolphine Weil foi uma autora e filósofa francesa, que se tornou operária para escrever sobre o cotidiano dentro das fábricas. Em ‘A Última Dança’, a atriz Natalia Gonsales leva ao teatro os escritos desta francesa, que narram sua vida na fábrica e resistência às guerras e à força. A encenação, que foi toda construída a partir de seus relatos e cartas, estreia nesta segunda-feira (13) no Viga Espaço Cênico, em São Paulo.
Saiba os dias e horários do espetáculo
Em cena, existem apenas a atriz e algumas máquinas de linha de produção. A trilha é composta por ruídos das correias e barulhos de macetadas. Outras manifestações sonoras do ambiente fabril são transformadas em músicas. E a luz desenhada é responsável pela atmosfera dura e fria de uma fábrica e pela mudança de temperatura ambiente que os operários eram/são submetidos.
Espaço Cênico (Foto: Divulgação)
– Segundo Simone, a ordem imposta pela força exige que seja preciso calar e obedecer fazendo com que o pensamento se dobre sobre si. As greves, os pensamentos retraídos, o cansaço, a tragédia grega no cotidiano do povo, o esmagamento da minoria, as relações de força na história que geram a opressão até os dias de hoje são temas que ela pensou, escreveu de maneira audaz e que são abordados nessa encenação – comenta Natalia Gonsales.