A-VÓS, dança-homenagem àqueles que nos precederam, aos pais de nossos pais e aos nossos ancestrais míticos.
Diante de uma sociedade ocupada com a satisfação imediata de seus desejos – que esquece o passado e projeta a novidade ao invés do futuro, que consome desenfreadamente e descarta sem pudores o que considera obsoleto, trazendo no próprio corpo o horror ao envelhecimento – reverenciar os “nossos velhos” vai na contracorrente e assume-se um ato estético-político.
Dançamos a sabedoria coroada por seus cabelos alvos, suas vozes e palavras que nos ajudaram a olhar o mundo e também suas mãos conhecedoras de seus ofícios. A alfaiataria, o bordado, a marcenaria, a construção civil, a música e o canto são marcas inscritas em seus corpos, na delicadeza ou na rudeza dos gestos que nos inspiraram a criar este espetáculo. Vidas-memórias dos que estão conosco e dos que vivem em nós, que nos deram colo como quem assenta chão seguro para pisar, camadas de tempo real, cíclico, espiralar que sempre retorna nas histórias ou na imagem desbotada de um retrato antigo.
A trilha dos nossos afetos mais íntimos também nos levam ao encontro dos “avós do mundo”, ancestrais que habitam o mistério e os mitos. Evocados na encruzilhada dos caminhos trilhados por cada bailarino-criador, onde o contato com os rituais funerários dos índios Bororos, com a dança butô e com as danças e narrativas dos minkisi são ressonâncias que nos serviram como chaves para a abertura de um espaço-tempo mítico. Aqui, reelaboramos nossos afetos e imaginário e nos conectamos com o que nos move no constante ato de criação do presente.
A pesquisa e criação do espetáculo A-VÓS iniciou-se de forma independente em novembro de 2015, em parceria da Nave Gris Cia Cênica com o bailarino Fredyson Cunha. No final de 2016 fomos contemplados pela 21º Edição do Programa de Fomento à Dança para a Cidade de São Paulo, o que possibilitou a criação e produção do espetáculo. Para além da criação de A-VÓS, o projeto homônimo contou com outras ações: a circulação dos espetáculos Minha Cabeça me Salva ou me Perde, da Nave Gris e Brevidade, solo de Fredyson Cunha, além da realização do II Encontro Mulheres Negras na Dança, vencedor do Prêmio Denilto Gomes 2017, na categoria Projeto de Dança, e indicado ao APCA 2017, na categoria Projeto/Programa/Difusão/Memória.
Ficha técnica:
Pesquisa e concepção do espetáculo Nave Gris Cia Cênica
Criadores-intérpretes Fredyson Cunha, Kanzelumuka e Murilo De Paula
Orientação artística Sayonara Pereira
Estagiária Inessa Silva
Concepção sonora e musical Daniel Maia
Operação de som Viviane Barbosa
Artistas convidados Paulinho Gama e Adelita
Iluminação e operação de luz Diogo Cardoso
Concepção do cenário Murilo De Paula
Pintura artística cenográfica Cesar Rezende Santana (Basquiat) e Murilo De Paula
Figurino Éder Lopes
Registros fotográficos Mônica Cardim
Produção executiva Rochele Beatriz (Guria Q Produz)
Assistência de produção Antônio Franco
Assessoria de imprensa Iara Filardi
Design gráfico Caco Bressane
Indicação etária: Livre
Duração: 45min